Perceber melhor quem somos e por que fazemos o que fazemos, por que gostamos do que gostamos, etc, é essencial para muito na nossa vida, incluindo e essencialmente, para saber o que fazer da vida profissionalmente. O autoconhecimento é a base do meu trabalho, já me deu muita clareza na vida e daí também querer que todas vocês beneficiem dessa dádiva. E é preciso bastante autoconhecimento para escolher uma profissão ou carreira, para saber em que é que os nossos dons e talentos seriam melhor aplicados, o que realmente nos dá prazer e realização, em que condições florescemos e são um match quase perfeito e quais as que nos afetam negativamente assim como que tipo de trabalhos e contextos são um completo tiro ao lado quanto à aplicação das nossas capacidades.
Quando escolhemos um rumo profissional geralmente somos muito novos e se ainda não sabemos bem quem somos já adultos, com 15 ou 18 anos, sem dúvida, de que sabemos ainda menos e, muitas vezes, acabamos por seguir as vontades de outras pessoas ou escolher com base no pouco conhecimento e experiência que temos na altura. E tudo bem, terá sido a melhor decisão para aquele momento. Mas com o passar do tempo e com a maturidade também vem uma visão diferente e, às vezes, a conclusão de que estamos a trabalhar numa área que não nos diz nada. E recebo muitas clientes em Coaching na casa dos 30 e 40 anos nesta situação em que finalmente estão a querer conhecer-se melhor e encontrar um trabalho em que se sintam mais elas próprias, em que possam expressar talentos que podem estar há anos em pausa, com os quais possam sentir mais conexão e sensação de propósito. Antes de mais, é possível mudar e descobrir o que se quer fazer em qualquer idade (cada processo é individual mas tenho sempre boas perguntas e exercícios para ajudar nesta empreitada) e é mais do recomendado investir no autoconhecimento em qualquer altura da vida, seja para descobrir o rumo profissional ou melhorar outra área da vida.
Qual o melhor trabalho para o meu tipo de personalidade?
Conhecer a nossa personalidade e os nossos pontos fortes e menos fortes é um passo nesse sentido. Lembram-se dos testes psicotécnicos? Eu lembro-me de não ter sido muito honesta nos ditos cujos porque o meu lado control freak queria garantir que aquilo dava o resultado que eu achava que queria na altura. A minha ideia era vir a ser jornalista então respondi todas as questões orientadas para as áreas Letras e Comunicação de forma muito mais positiva que as de Ciência, Saúde e que eu sabia que não tinham nada a ver. Surpresa das surpresas! Sim, o resultado orientou-me para a área de Humanidades, claro. Aldrabei o sistema e é muito esse o problema dos testes, sejam quais forem – nós tendemos sempre a responder e a escolher a opção que vai mais ao encontro do que achamos que deveríamos ser e não o que somos necessariamente. Mas com muita auto-consciência e honestidade connosco acho que é possível usar os testes de personalidade a nosso favor e usufruir dos seus resultados.
Aqui neste último post falei-vos sobre os testes Myers-Briggs. A classificação tipológica de Myers-Briggs (do inglês Myers-Briggs Type Indicator – MBTI) é um instrumento utilizado para identificar características e preferências pessoais. Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers desenvolveram o indicador durante a Segunda Guerra Mundial, baseadas nas teorias de Carl Gustav Jung sobre os Tipos Psicológicos. Volto a deixar os links – aqui em inglês ou este aqui em português do Brasil. Façam, lá está, com a tal da maior honestidade com que conseguirem, e leiam o relatório que sai no final que, entre outras referências, fala da área profissional e fornece indicações sobre que áreas seriam uma boa hipótese de carreira tendo em conta as vossas características de personalidade. Assim como indica tipos de profissões que não seriam um bom fit para a vossa personalidade por razões que, vão ver, fazem todo o sentido. Aqui vos deixo um quadro com algumas ideias das melhores profissões para cada tipo de personalidade Myers-Briggs:
Eu sou uma INFJ e realmente acertei na minha escolha – ser Consultora de Imagem e Coach é, sem dúvida, um trabalho de e com recursos humanos, pessoas são mesmo a minha paixão, e tem muito de psicologia, conselheira, mediadora. E ao que parece também seria um ótimo padre! Deus vos abençoe, minhas lindas!! 🙂 E, como podem ver, para ter sido uma jornalista decente (ou marketeer e relações públicas que foram as áreas em que acabei por fazer licenciatura e pós-graduação) precisava de ser bastante mais extrovertida do que sou e daí eu ter tido a minha primeira crisezinha existencial na faculdade porque realmente senti logo no segundo ano que não tinha o que era preciso para esta profissão nem o gosto suficiente, assim como o meu lado idealista iria dar-se muito mal com esta indústria, de certeza! Bendita a minha intuição INFJ bem desenvolvida que me ajudou a perceber isto bem cedo. 😉
E é mesmo importante conhecermos as nossas capacidades porque até podemos gostar do que fazemos e estarmos na área certa mas não no ambiente mais adequado. E isto é bem provável que sintam e vos aconteça se forem introvertidas. Se são dos tipos de personalidade começados por I, com energia Introvertida, minhas meninas, lamento, mas a vossa vida profissional acaba por ser sempre mais complicada. Assim como também terá sido a escola. Aqui também já vos falei muito sobre a introversão e como mudou muito a minha vida descobrir esta bonita característica pessoal que tem muito má fama – é que somos vistas como anti-sociais muito metidas no seu canto e, não digo que não seja muito isto, mas somos bem mais. Leiam aqui o meu lindo tratado sobre a minha introversão, e da grande maioria das minhas clientes que isto parece que atrai, e repito: uma boa fonte para saberem mais sobre o universo introvertido é o livro da Susan Cain – Silêncio, o poder dos introvertidos num mundo que não pára de falar. Ela fala, inclusive, muito sobre o mundo do trabalho e de como não está feito para personalidades introvertidas, no geral.
A personalidade introvertida no mercado de trabalho
Os introvertidos tendem a ganhar energia por estarem sozinho, pelo que num contexto profissional podem preferir trabalhar num espaço fechado – ora a grande moda dos open spaces é só o maior terror de um introvertido! Susan Cain aponta no seu livro que o mundo favorece os extrovertidos e podemos ver isso nos tais locais de trabalho colaborativos e em open space, nas milhentas reuniões que não servem para grande coisa, no favorecimento do trabalho em grupo, algo que se vê muito na escola e que era também o meu terror – trabalhos de grupo não eram, de todo, a minha cena e só me faziam sentir mal e desadequada. É isso que todo o introvertido sente quando se multiplicam os exercícios de team bulding, as festas de colaboradores e o que mais é valorizado e incentivado são as habilidades sociais e o ter que trabalhar em equipa, a necessidade constante de brainstorming e pensamento coletivo (Cain até aponta no livro estudos que provam que esta forma de trabalhar tem efeitos negativos na criatividade e inovação e não ao contrário). Não é que não gostemos de partilhar e colaborar mas simplesmente não funcionamos melhor dessa forma. A personalidade introvertida precisa, e é mesmo uma questão de necessidade da mesma forma que o extrovertido precisa mesmo de socializar, do seu tempo de solidão, porque assim acabará por ter o tempo e espaço para refletir de forma a transmitir as suas ideias, pensamentos e conclusões. Assim, os introvertidos preferem grupos pequenos, reuniões one-on-one e políticas de trabalho flexíveis (valorizando a possibilidade de ter dias para trabalhar de forma independente ou até de forma remota a partir de casa).
Vem daqui muita da minha dificuldade em adaptar-me ao mercado de trabalho português quando saí da faculdade que agora percebo e consigo identificar – os introvertidos são também mais sensíveis a estímulos externos, seja muito ruído, cheiros, o que for exagerado para os nossos sentidos reativos que, sim, somos uns grandes esquisitinhos, então, o grande ruído e estímulo visual do open space do meu primeiro trabalho foi a morte aqui da artista! Sentia-me sempre muito exposta, desconfortável, ao ponto de andar sempre doente e tudo – o psicossomático é lixado! Para além de ter tarefas comerciais e ter que falar ao telefone que, para mim, é o equivalente a uma boa sessão de tortura medieval, das piores que se possam lembrar. Para além de que cá não existem políticas de trabalho flexível ou há muito poucas empresas abertas e atualizadas a esse nível. Já é comum, felizmente, noutros países e vou conhecendo as diferentes realidades profissionais através das minhas clientes a viver aqui em Portugal e no estrangeiro e, sim, há contextos de trabalho lá fora em que eu até me via a adaptar porque não têm estruturas tão hierárquicas e rígidas, os horários são flexíveis e permitem o trabalho a partir de casa e tudo. No fundo, tratam os colaboradores como gente crescida e responsável que se sabe gerir e confiam e valorizam-nos, agem como instituições que precisam das pessoas e das suas capacidades para terem sucesso enquanto que cá ainda são muitos os casos de empresas antiquadas que vêm os seus trabalhadores como números, funcionários utilitários apenas. Valorização não acontece de todo e já ouvi e conheci demasiadas histórias laborais de terror que só me fazem validar a minha decisão de criar esta minha solução por conta própria quando, hoje percebo, precisei de criar condições de trabalho que se adaptassem a mim quando sabia que muito dificilmente as iria encontrar no mercado de trabalho por conta de outrem.
Como podem ver, é difícil ser um introvertido num mundo extrovertido e se são introvertidas também terão experiências e sensações de desadequação frequentes mas percebam que é normal e de que não há nada de errado convosco! Também está no vosso lado a responsabilidade de terem as condições de que precisam, seja procurando por áreas e contextos mais favoráveis às vossas características, seja pedindo o que precisam ao vosso empregador para que possam prosperar. Qualquer tipo de personalidade é válida e necessária e o mundo empresarial precisa de perceber como se deve adaptar a diferentes estilos de trabalho, porque todos somos diferentes. E é nessa diferença que encontramos o sucesso. É em conhecermo-nos e aceitarmos os nossos poderes, mesmo que silenciosos, que encontramos o nosso valor.
Assim, para bem do vosso talento e competências introvertidas, mas também da vossa felicidade e realização pessoal, o ideal é que tenham ou procurem um emprego ou contexto que se adeqúe à vossa personalidade. Quando isto não acontece a frustração é grande, exige que sejam uma coisa que não são e pode ser um verdadeiro desperdício de competências.
Trabalhos e contextos NÃO compatíveis com personalidades introvertidas
Trabalhos e contextos COMPATÍVEIS com personalidades introvertidas
Os melhores empregos para introvertidos
Então, um introvertido terá sempre melhores possibilidades de se sentir mais à vontade e de ser bem sucedido nas seguintes áreas, entre outras:
Profissões criativas – relacionadas com a criação de conteúdos, sejam vídeos, fotografias, músicas ou conteúdos escritos. Os introvertidos tendem a ser mais criativos do que a generalidade das pessoas.
Investigação – profissões ligadas à Ciência e à investigação podem ser ótimas para pessoas introvertidas, e desesperantes para pessoas extrovertidas. Longas horas de leitura e pesquisa, análise minuciosa de dados, colocação de hipóteses de estudo, monitorização de resultados… um sonho introvertido.
Arquivo – em autarquias, museus, bibliotecas e arquivos. Os requisitos deste tipo de profissões resumem-se a uma grande capacidade metodológica, de organização, minúcia, paciência, ponderação e concentração. Um introvertido com estas competências tem tudo para adorar este trabalho, já que exige também pouco contacto com o público e mesmo com colegas. Toda a minha vida frequentei a biblioteca da minha zona e ainda outro lá fui e sempre disse o mesmo: a trabalhar para outros ali seria o meu trabalho de sonho! E deve ser para as pessoas que lá trabalham porque são as mesmas desde que me conheço, é super seguro também e tudo e uma maravilha de certeza que ninguém se despede! 🙂
Tradução – tradutores de documentos escritos podem fazer o seu trabalho sem interagir com mais ninguém. Eu serei mais ambivertida porque sinto mesmo necessidade de interagir com pessoas, sempre one to one, de preferência. Mas o estabelecer de relações profundas é muito importante para mim no dia-a-dia, então, a reclusão total não é condição exclusiva para quem é introvertida. Não me coloquem é com grupos grandes!
Blogging – apenas se precisa de um computador e de talento para escrever, assim como de competências de gestão e marketing que te permitam fazer deste projeto um negócio que pode ser monetizado de variadas formas desde a o próprio conteúdo do blog com publicidade e outras formas à oferta de serviços freelance das tuas competências, de consultoria, coaching, formação (grupos pequenos conseguem ser toleráveis para um introvertido), produtos digitais como e-books e e-courses, loja online com produtos físicos e um mundo sem fim de possibilidades mas sempre com a possibilidade de ser um trabalho que pode ser feito a partir de casa ou de qualquer ponto do mundo sendo o nomadismo digital uma opção atrativa para introvertidos.
Os desafios no mercado de trabalho para quem tem uma personalidade introvertida podem ser mais do que muitos mas tendo auto-consciência e aceitando as vossas características como qualidades podem procurar e/ou criar um percurso profissional muito mais favorável e feliz! E isto é válido também para extrovertidos, todos os tipos de personalidade, que os desafios e as agruras profissionais são gerais. E como o tempo que passamos no trabalho é tanto da nossa vida acredito que vale a pena escolher e viver uma carreira em que nos sintamos úteis e nos dê satisfação e mesmo diversão. Acredito mesmo que não têm que se contentar com menos. Descubram-se e descubram um trabalho à vossa medida.
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Estou a adorar estes posts sobre este tema, e o de hoje é particularmente sensível para mim, estou a passar uma fase muito complicada a nível profissional e acredito que a minha tendência introvertida esteja a dificultar a minha relação com as pessoas e adaptação à cultura de empresa (não está a acontecer, basicamente). Estou mesmo a ponderar lançar algo meu ou trabalhar como freelancer ou remotamente para alguma empresa. Estou há muitos anos num mercado de trabalho que não é feito para pessoas como eu e a minha energia esvai-se com uma rapidez incrível… Adorei este post, é muito esclarecedor.
Obrigada
Obrigada!! 🙂 Sim, muito provavelmente essa tua sensação de inadaptação a este trabalho e outros no passado terá que ver com a tendência introvertida e tudo o que expliquei no post – se o ambeinte tem muita gente e muitos estímulos então a tua energia não deve durar nem até à pausa da manhã! Se conseguires encontrar uma empresa que permita o trabalho remoto, seria uma ótima hipótese, senão pode passar muito por te lançares por conta própria ou de forma freelance, sim. Se te identificaste com muitas das situações que descrevi é caso mesmo para não te sentires mal por sentires isso e só aceitares e procurares soluções que vão mais ao encontro de quem és. Vais ver que faz muita diferença! 😉 Se precisares de ajuda e apoio nesse processo, é só dizeres! 🙂 Beijinho e obrigada por acompanhares! <3
Faz todo o sentido. É mesmo super importante conhecermo-nos e percebermos o que funciona ou não para nós, e quebrar com estas ideias que nos impingiram de que há alguma coisa de errado connosco… com estas pequenas-grandes mudanças podemos ter uma vida muito mais feliz e preenchida. Obrigada Anita!!
É isso mesmo! 🙂 Obrigada eu! <3
Olá Anita! Mais uma vez, excelente forma de abordar este tema! Apesar de ser um assunto que me cativa imenso, tens notas muito perspicazes num contexto social e até empresarial que faz todo o sentido repensar a forma como os recursos humanos utilizam ferramentas para analisar e avaliar as pessoas. Eu, sendo de RH, acho que os introvertidos deveriam ser mais valorizados como talento mas hoje em dia ainda é mais fácil de valorizar os extrovertidos. O modus operandi de todo mundo corporativo e não só, encaixa objectivamente nos extrovertidos. Espero que haja de futuro lugar para todos Excelente artigo! Deveriamos falar mais sobre isso! Beijinhos
Olá Melina! Obrigada! 🙂 Realmente o mundo é muito feito e orientado para extrovertidos e ainda bem que como RH reconheces o valor de talento dos introvertidos e diferentes tipos de personalidade. Acho que as empresas devem aproveitar o melhor de cada pessoa que será sempre completamente diferente e único, em vez de tentar moldar toda a gente de forma igual. Devemos mesmo falar mais sobre isto, sobre a importância e aceitação da individualidade e da diferença, no trabalho e em todos os contextos! 🙂 Beijinho